Dura Derrota Para os Retro Games
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Marcio Baião
11/4/2024
Dura Derrota Para os Retro Games
É realmente impressionante – e um tanto irônico – como a indústria dos games, que se orgulha de criar experiências imersivas e culturais, coloca tantos obstáculos para preservar sua própria história.
A decisão do US Copyright Office, em conjunto com o Entertainment Software Association (ESA), de impedir que jogos antigos sejam preservados legalmente é um marco triste para o setor. É como ver um museu de arte proibido de salvar quadros, ou um arquivo de filmes impedido de arquivar filmes históricos.
Essa postura mostra que a indústria tem um problema sério de miopia ao priorizar o lucro imediato em detrimento da preservação cultural. O número é alarmante: 87% dos jogos lançados antes de 2010 estão “virtualmente inacessíveis”. Isso significa que boa parte da história dos videogames corre o risco de se perder completamente. É fácil ver as consequências disso quando se compara com outras formas de arte: enquanto filmes, músicas e livros são protegidos e preservados, o videogame – um meio com uma riqueza de narrativa, design e inovação – é relegado a ser um produto descartável, algo que pode desaparecer quando o próximo grande título chega ao mercado.
Os argumentos apresentados pela ESA e pelo US Copyright Office revelam um desprezo pela preservação. Dizem que permitir o acesso remoto a jogos antigos pode prejudicar o “mercado importante” dos games. Mas de qual mercado estamos falando? O mercado dos colecionadores e saudosistas, que gastam fortunas para encontrar cartuchos antigos em feiras de segunda mão? Ou o das grandes corporações, que preferem revender versões remasterizadas desses mesmos jogos a preços inflacionados?
Ao bloquear a preservação, estão jogando a história dos games no mercado negro e limitando o acesso apenas àqueles dispostos a pagar – ou piratear. Esse é um ponto que mostra o abismo entre a realidade dos jogadores e a das corporações: muitos games populares hoje, como remakes ou jogos inspirados em títulos clássicos, existem graças ao apego cultural que fãs têm por eles. Afinal, existe um valor emocional que transcende o financeiro; é uma herança que deveria ser acessível, não tratada como lixo digital.
O Desprezo Pela Preservação da História dos Games.
O ESA e o Copyright Office alegam que a proposta do Video Game History Foundation (VGHF) foi rejeitada por falta de "requisitos claros" sobre quem quer acessar os jogos e por quê. Essa desculpa burocrática é ridícula. Em qualquer museu, ninguém pergunta aos visitantes porque querem ver um quadro de Van Gogh ou ouvir uma gravação rara de um clássico do jazz.
Preservar jogos em sua forma original não representa uma ameaça ao mercado; representa um respeito à história do setor. Jogos não são meros produtos para serem comprados e descartados. São peças de cultura pop que moldaram gerações e influenciaram outras formas de arte.
Ao obstruir a criação de repositórios digitais, o Copyright Office está garantindo que os jogos antigos se percam, exceto para aqueles dispostos a navegar na ilegalidade para recuperá-los. O mais cínico é que, enquanto outras mídias são protegidas e arquivadas, o videogame é deixado à mercê de disputas comerciais e lobby corporativo.
Quem perde com isso são os jogadores, a história dos games, e todos que veem os videogames como uma arte digna de respeito e preservação. É hora de a indústria e as autoridades pararem de tratar videogames como produtos descartáveis e reconhecerem que preservar a história dos jogos é preservar a própria memória coletiva de uma era tecnológica e cultural...
Absolutamente lamentável!
Após o Desprezo... O Cinismo...
Marcio Baião
@Baionder
Roteirista e criador de conteúdo duvidoso: Jogos antigos, experiências pessoais e amoralidades no Pior Canal do Mundo. Filmes, animes, livros, música e o mais completo desrespeito no canal Cerveja Barata.