Resposta da Data East: Caso Fighter's History Vs Street Fighter
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Marcio Baionder
10/23/2024
A Resposta da Data East
Nos últimos dias, algo muito interessante aconteceu (ao menos para quem gosta de história dos games). Acabou de ser descoberta uma fita VHS com a resposta da Data East ao infame processo que a Capcom abriu contra ela.
A acusação? Que o game Fighter's History tinha "roubado" os designs de personagens de Street Fighter II. O vídeo resgatado é este logo acima (se você não entende inglês, é só ligar a legenda automática do YouTube com tradução para português).
Agora, vamos falar um pouco sobre esse caso para refrescar sua memória, ou talvez apresentar a história para quem não a conhece. O que já posso adiantar é: ninguém é inocente nessa disputa. Tanto a Capcom quanto a Data East fizeram manobras questionáveis, ambas tentando controlar o mercado de games de luta. Para entender a situação, precisamos voltar ao início dos anos 90, onde toda desenvolvedora queria criar seu próprio Street Fighter II, por motivos óbvios: a Capcom estava nadando em dinheiro, revolucionando os fliperamas e lucrando muito com ports caseiros.
Isso gerou uma enxurrada de imitadores, todos querendo um pedaço desse sucesso. Entre os poucos jogos que realmente ganharam alguma popularidade estava Fighter's History, da Data East, que, à primeira vista, parecia uma cópia descarada de Street Fighter II. Isso levou a Capcom a mover um processo pesado contra a Data East.
A Capcom, após anos de boas relações com a Nintendo, contraiu o "vírus do processo" e tentou de tudo para varrer Fighter's History do mapa. Mas será que Fighter's History era realmente só um clone barato? A Capcom tinha razão em processar a Data East? E se tinha, por que não processou vários outros jogos até mais semelhantes a Street Fighter II?
Vamos analisar mais de perto. Fighter's History era um jogo de luta 1 contra 1, lançado nos arcades em 1993. Para quem o via pela primeira vez, a semelhança com Street Fighter II era clara: tela de seleção de personagens, o estilo de luta, o esquema de seis botões... mas as semelhanças acabam na experiência de jogo. Quem jogou na época sabe que não era exatamente a mesma coisa. O jogo tinha uma mecânica única, chamada "sistema de ponto fraco", onde o jogador podia atordoar o oponente ao atingir repetidamente uma área específica de seu corpo. Isso já mostrava que, apesar das semelhanças superficiais, o jogo tinha sua própria identidade.
E, durante o processo, a representante da Data East deixou a Capcom em uma posição constrangedora, apontando falhas e exageros nas acusações. A Capcom acusou personagens de serem cópias óbvias, mas distorceu fatos, como alegar que um personagem careca da Data East copiava Sagat, que supostamente usava brincos — brincos esses que sequer existiam no design de Sagat, em o personagem acusado tampouco era careca. Tudo isso revela que a Capcom não estava apenas protegendo sua propriedade intelectual, mas tentando monopolizar o mercado de jogos de luta.
Ao processar a Data East, eles queriam criar um precedente legal para esmagar qualquer concorrência futura. O plano? Fazer com que qualquer jogo de luta similar a Street Fighter fosse considerado uma violação de direitos, garantindo o controle sobre o gênero.
O que a Capcom conseguiu, no entanto, foi sair humilhada nas audiências. Mas não se iluda, vista em um plano longo... Trata-se de um show de picaretagem de ambos os lados. Esse caso não é só sobre um processo, é sobre uma época em que as empresas estavam moldando o gênero de jogos de luta. E, para entender melhor essa história, temos que voltar um pouco mais no tempo, até 1984, quando a Data East lançou Karate Champ, o verdadeiro pioneiro dos jogos de luta. Ali foi onde tudo começou, e esse é um capítulo que a Capcom prefere deixar de lado na narrativa de sua "supremacia criativa".
E nesta época a Data East fez a mesma coisa que a Capcom faria anos depois, ao tentar monopolizar jogos com temática de luta (especificamente caratê). Ao processar (e perder) para a Epyx, que havia lançado um jogo chamado World Karate Championship.
Por fim, mesmo quando se põe o primeiro Street Fighter como "pai dos jogos de luta modernos" anda é uma visão totalmente equivocada. A verdadeira fundação do gênero de luta 1x1 pode ser rastreada bem antes, com títulos como Yie Ar Kung-Fu, da Konami, que já trazia personagens distintos com movimentos variados e diferentes estilos de combate nos moldes que a Capcom se propõe como fundadora.
A Capcom pode ter revolucionado com "Street Fighter II", mas é um completo delírio creditá-la como a fundadora do gênero. O que ela fez foi refinar um conceito que já vinha sendo explorado em outros jogos por diferentes desenvolvedoras.
No fim, a Capcom pode ter moldado o mercado de games de luta com Street Fighter II... Um dos jogos mais importantes da história, com certeza, mas suas tentativas de monopolizar o gênero falharam feio, e Fighter's History continua sendo lembrado, não como uma cópia barata, mas como um capítulo na história dos jogos de luta.
A verdade? Apenas te passei um pequeno resumo dessa briga histórica, e se você quiser mergulhar ainda mais fundo, o primeiro passo é não esquecer de conferir o vídeo.